Sempre
olhei com desconfiança aqueles sites, blogs e seções de jornais contendo “dicas
de”, especialmente voltadas à educação dos filhos: “Nossa, se estamos
precisando de manuais que nos ensinem a como conduzir a formação de nossos
rebentos, algo parece não estar certo”.
No entanto, vez por outra, numa hora
de desespero, e se o bolso está apertado para pagar a conta de um terapeuta,
acabamos nos valendo desse socorro ao alcance de alguns cliques, especialmente
em tempos de internet. E em se tratando de literatura, não é diferente.
Certa vez, achei meu guri meio
desanimado para ler. Então resolvi tentar uma das famosas dicas de “como despertar o interesse pela leitura”. Na época,
ele devia estar com uns oito anos de idade, já se interessando por gibis da
Turma da Mônica Infantil e alguns mangás ( histórias em quadrinho feitas no
Japão, cujos personagens têm os olhos bem grandes). Resolvi dar uma garimpada
nas livrarias de minha cidade e descobri uma preciosidade : uma adaptação de
Tom Sawyer, de Mark Twain, em quadrinhos. E o mais interessante: as ilustrações
eram com traços de mangá! Comecei a folhear as páginas e me encantei com as
peripécias do protagonista, o jovem órfão Tom Sawyer, que se envolve em mil
aventuras com seu melhor amigo Huck e, por conta das artes que apronta, vive de
castigo. Além disso, é apaixonado pela bela menina Becky, a quem vive tentando
conquistar. Bem, e onde entra a dica?
Segundo alguns desses guias
motivacionais de leitura, uma tática é deixar o livro em cima de um móvel, bem
à vista da criança, assim, como se tivesse sido largado por acaso ali, para que
ela o encontre, tipo “achei uma surpresa, o que será?”, para despertar a
curiosidade. E foi o que fiz com o Tom Sawyer: deixei-o em cima de nosso sofá
da sala. Combinei com as demais pessoas de minha casa para não o removerem de
lá. Um dia, entrando em casa, a surpresa: meu filho, sentado no sofá, perninha
de índio, concentrado com o livro na mão. Eu disse: E aí, Rafa, encontrou o
livro, é?
- Eu
sabia que era pra mim ( deu uma risadinha).
- E
tá gostando?
-
Tô adorando! Esse menino é muito engraçado.
Daí pra frente, Tom Sawyer passou a
ser nosso companheiro noturno de aventuras, pois, às vezes, eu lia algumas
páginas para o Rafa antes de ele dormir. E nas partes em que aparecia o Tom
querendo namorar a Becky, meu filho ficava todo envergonhado, já dando sinais
da pré-adolescência que se aproximava.
E se alguém tem preconceito com as
adaptações, vale a pena rever seus conceitos: elas podem ser a porta de entrada
para os originais.
Fica a dica.
Até nosso próximo encontro.
Cláudia Sepé